Quanta civilidade. Quantas propostas honoráveis, dignas de menção honrosa nos anais da República Federativa do Brasil.
O que mais me chamou a atenção neste quase-debate presidencial foi a higiene nos comentários, a polidez no trato, a educação bacharelesca dos nossos candidatos. A tese é simples: os candidatos têm que se afastar do Brasil, de nossas mais queridas tradições, do calor. O Brasil tá mal na foto; ser brazuca, pé rapado e cabeça chata é sinônimo de atraso. Mas quem é você, cara pálida? Somos isso mesmo; cordiais, carnavalescos. Foram de uma postura britânica num clima tropical. Não vai ser recalcando e reprimindo nossa identidade que vamos superar nossas contradições e atraso, mas sim fazendo um mergulho profundo na nossa essência nacional. E dá-lhe Sérgio Buarque!
O Roberto Jefferson conseguiu furar a política nacional se aprofundando nos nossos valores. Ele não finge ser o que não é. Admite. E não devemos ter horror aos nossos valores. Se são bons ou maus nada impede que sejam melhores. Mas para isso temos que enfrentar, e não arranjar bodes expiatórios ou simplificações. O Brasil é complicado pacas.
Esqueci que estava no Brasil. Onde estava o coração? Fora a Heloísa Helena que atacou com veemência a ausência de Lula e os governos FHC e atual, os outros foram pasteurizados pelo horror à nossa história. Faço aqui um aparte ao Senador Cristovam Buarque, que tem martelado constantemente sua bandeira; a educação. Sinto sinceridade nele.
O Lula não foi. E daí? O Serra também não foi, o FHC também não foi. O Alkmim poderia ter batido forte no Lula (assunto é que não falta, só que aí ele lembra do Azeredo) mas preferiu lançar mão do Bushismo, tão em moda hoje em dia. “O PCC quer destruir minha candidatura. O PCC é uma organização política. O Brasil vai virar uma Colômbia.”, atirou durante o debate. É a política do medo, reeditaram a Regina Duarte. (talvez tenha sido ela quem inventou o bushismo) Certo mesmo estava Heloísa Helena que apontou o óbvio; tanto PT quanto PSDB têm culpa no cartório, e fariam um bem ao país que assumissem suas responsabilidades humildemente.
Esse debate propositivo é coisa de marqueteiro. Proposta não se debate desta forma. Proposta se estuda. Se você quer mesmo saber das propostas dos candidatos acessem os seus respectivos sites. Mas só falar de propostas num debate como esse serve apenas para transmitir uma imagem de pessoa séria, comprometida com a eficiência.
Palavra chave essa: eficiência. Substituímos a política por meia dúzia de jargões retirados diretamente dos livros de administração do Philip Kotler. Queria ver a Heloísa Helena admitir com todas as letras, “sou comunista”! Qual o problema? Ela tem todo o direito de sê-la. Queria ver o Bivar brandar, “sou de direita”, e daí? Vai encarar? Por sinal os que foram melhor no debate, na minha humilde opinião, foram o Cristovam Buarque e o Luciano Bivar. Martelaram nas suas bandeiras, um educação, outro imposto único. Sei exatamente o que eles pretendem.
Não quero nem falar muito do Alkimim para não dar briga em casa. Mas fingir que não tem nada a ver com o atual caos de São Paulo foi, no mínimo, deselegante. Ele poderia ter falado: “brasileiros, errei. Poderia ter feito isso, aquilo e mais aquilo outro. Só que tem coisas que não cabem à um governador, e o lugar certo para realizar o que São Paulo precisa, e o Brasil, é na presidência...” Sei lá! Poderia ter dito tanta coisa...
Vai começar a campanha eleitoral na TV. Fica a dica.
Preparem o saco, os ovos e os tomates.
