O Homem Vertical - A política por dentro.

quinta-feira, dezembro 22, 2005


Que falta faz Nelson Rodrigues. Posted by Picasa

O Imbecil Fundamental

Acabo de ver o Nelson. Que saudade eu tenho dele. Nunca conheci o sujeito, mas já o vi muito por aí. Minha mãe é carioca, meus avós eram carioquíssimos. Na verdade são de um tipo de carioca mais antigo; eles moram em Niterói. O Rio de Janeiro hoje em dia tem ares muito estranhos, é meio internacional. Não sei se você sabe, mas existe um Internacional. O Internacional é uma espécie de lobby de hotel de luxo, meio cafona, onde se toca Ray Conniff o tempo todo e os drinks têm guarda-chuva decorativo. O Rio virou uma espécie de espelho de si, atravessou a moldura para outro lugar. Talvez para o aeroporto.

Niterói não. Continua mansa, despretensiosa, leve. Minha avó mora num dos primeiros prédios altos da cidade, na praia de Icaraí. É um prédio enorme, pintado de rosa e com elevadores com portas pantográficas. E não são simples portas pantográficas, são portas duplas! Você entra de um lado e sai pelo outro. Onde existe isso ainda? No Rio de Janeiro eu acho que não.

Pois bem, só nesse prédio eu já vi o Nelson uma centena de vezes. Mas eu não quero falar hoje sobre esse Nelson que eu vi nas coxas das empregadas daquele prédio, quero falar de algo muito menos importante: quero falar do imbecil fundamental.

O Nelson disse que o maior acontecimento deste século foi a vitória do Imbecil Fundamental. Ele acreditava que houve uma rebelião, que os imbecis fundamentais ganharam o jogo do século por conta da sua superioridade numérica. Em tempos sinistros em que vivemos, onde o mensalão já virou piada de salão, talvez nosso querido reacionário aponte a razão deste mal estar. Pelo menos para mim é um mal estar. Ruborizo-me quando penso nessa merda toda. Me torturo com nossa incapacidade de reação. Por isso fui a Brasília e saí perguntando: Senador, me explica; o que acontece nestes trópicos? Roberto, me ajuda!

Hoje eu não vou falar das pernas das empregadas. É do mesmo Nelson a constatação que não se deve confiar em alguém que não se ruboriza. Eu quero falar hoje do imortal, dos valores. Essa sub-pós-modernidade marota quer destruir o homem. Jovens, envelheçam!, ordenou o Nelson. Hoje eu estou velho, eu tenho valores. Esse relativismo que assaltou a consciência nacional, e o Internacional, serve apenas de xaveco. É velha essa história; um estudante de psicologia estuda Foucault só para impressionar as menininhas e passar a vara em algumas. O canalha tinha bigode no tempo do Nelson, hoje ele tem barba rala.

Ele dizia que tinha pudores, que era necessário ter pudores. Por isso usava suspensório. Era seu pudor. Segundo ele o suspensório é mais antigo que o paraíso. Deve ser. Mas não quero falar disso hoje, o que eu quero falar é que envelheci, e não agüento tanta molecagem.

Esses políticos são os Imbecis Fundamentais, mas eles ganharam por sua superioridade numérica. Temos que voltar a ler o Nelson. Ele sabia das coisas.